sábado, 22 de outubro de 2011

Resumo da mesa “Paradidáticos e sua Importância para a Educação” - Ubiratan Castro, Pawlo Cidade e Silvino Bastos



Ubiratan Castro, Pawlo Cidade e Silvino Bastos discutiram o conceito de paradidáticos, seu uso e suas consequências para a educação com a mediação de Nildon Pitombo.

Latidos, miados, batidas de pé, apertos de mão, palmas e uma fábula de Millôr Fernandes são a maneira de Pawlo Cidade, escritor com formação teatral, usou para mostrar, através da interação com o público, o que é possível produzir quando se foge do convencional. Ubiratan Castro explicou que a arte também é uma forma de conhecimento: “nossa epistemologia deve ser baseada na diversidade”, afirmou.

Os autores discutiram o desafio de se fazer literatura para os jovens, que preferem ver filmes a ler livros. Para Pawlo, escrever para a juventude é difícil porque pensamos que estamos produzindo para uma categoria, mas estamos sendo lidos por outra. O paradidático acaba sendo um livro que o aluno tem a obrigação de ler. “Por que indicar um livro em vez de deixar que o ele escolha?”, questionou.
O discurso literário, assim, invade cada vez mais o discurso histórico, tornando-se um desafio para o narrador que está amarrado na pesquisa. “A literatura tende a ser mais universal do que a literatura, explicou o professor Bira.

Silvino culpou a falta de histórias de ficção científica pelo que ele chama de “apagão tecnológico”. Questionou a falta de histórias do cotidiano no lugar das histórias fora do nosso ambiente cultural. Escritor explicou que o paradidático pode melhorar o aprendizado das crianças de maneira real, e mencionou um estudo em que crianças com menor desempenho escolar melhoraram 30% após o uso do paradidático, enquanto as crianças com bom desempenho não apresentaram melhora. Nildon completou: “Cultura não é para ser um objeto da transversalidade na caixinha dos parâmetros curriculares”.

Falando do e-book, os autores discorreram sobre suas crenças na continuidade do livro impresso. Pawlo enfatizou que o livro analógico não tem baterias e não precisa “salvar antes de fechar”. Silvino lembrou que é comum ver pessoas na praia com livros de bolso: “há espaço para todos, e por isso o livro impresso não vai acabar”, comentou.

Os autores encerraram pedindo a todos que lessem mais, especialmente os pais, para servirem de exemplo aos filhos.



terça-feira, 18 de outubro de 2011

Autores debatem mudanças didáticas para tornar literatura atrativa na escola


 Autores afirmam que professores estão no centro
das mudanças desejadas (Foto: Lílian Marques/G1)

O segundo dia da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica 2011), nesta quarta-feira (12), começou por volta das 10h no Conjunto do Carmo, na Praça da Aclamação. Mediada pelo assessor especial da Secretaria de Educação da Bahia, Nildon Pitombo, a mesa “Paradidáticos e sua Importância para a Educação” levantou debates sobre o conteúdo dos livros usados nas escolas brasileiras e formas de despertar o interesse dos alunos pela literatura.

Participaram da discussão o historiador baiano, diretor geral da Fundação Pedro Calmon (FPC) e membro da Academia de Letras da Bahia, Ubiratan Castro, o escritor, pedagogo e membro da Academia de Letras de Ilhéus, Pawlo Cidade, e o engenheiro, pesquisador e presidente dao Comitê de autores da Câmara Baiana de Livro, Silvino Bastos.

O local da palestra ficou lotado. De acordo com a assessoria do evento, todas as mesas da Flica tiveram as inscrições esgotadas. O auditório tem capacidade para 250 pessoas sentadas. A organização da Flica informou que só vai divulgar o número de pessoas que circularam pela festa após o fim do evento, no domingo (16).

O historiador Ubiratan Castro começou a discussão da mesa falando da importância de retratar a história nos livros didáticos e paradidáticos.“Cultura passa distante dos currículos escolares. Parece que cultura é só o que a lei determina. Não gosto muito da palavra paradidático, prefiro trabalhar com o conceito de literatura científica, que é aquele que apresenta o resultado e o método usado na pesquisa. Só há ciência quando se mostra como foi feito o estudo, como se chegou ao resultado apresentado. Hoje, o trabalho de um historiador é o de um cientista”, diz. 

(...)

O professor e escritor Pawlo Cidade levantou a discussão de que o professor é agente fundamental nesse processo de mudança, de tornar interessante o material e os métodos usados em sala de aula. Cidade fez uma breve demostração do que pode ser feito durante uma brincadeira com o público presente na Flica na manhã desta quarta-feira. Ele usou o texto de uma fábula para estimular os presentes com respostas dadas através de expressão oral e gestos. Em poucos minutos, o que se viu foi um público interado e envolvido com a brincadeira.

“Talvez não tenhamos paradidáticos daqui a alguns anos. A revolução deve passar pelo professor. É preciso se sensibilizar para depois sensibilizar. É dessa forma que trabalho com os meus alunos. É necessário também que o professor goste do que faz. Do contrário, não vai conseguir 'tocar' o aluno. A escola ainda não conseguiu se transformar em um polo produtor de leitores. Isso é preciso”, analisa.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

POEMA SEM POESIA


O grande poeta Fernando Pessoa imortalizou um verso que acusa o poeta de ser um fingidor. “Finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.” Talvez, esse não seja um dom somente dos poetas, mas, de todos os artistas. Sobretudo, os artistas de Teatro.

Entretanto, hoje não vou escrever sobre Teatro. Vou falar de poesia. O título desta coluna remete a um poema de Nivaldo Melo, escrito em abril de 2002. Não conheço Nivaldo, mas, fui apresentado a ele através de seus versos pelo meu amigo e irmão, José Teles. Um ávido leitor e colaborador deste jornal, entusiasta da cultura e apreciador da boa literatura.

Pois bem, Nivaldo Melo é um desses poetas que cativa a gente pela simplicidade de seus versos que falam diretamente ao coração. É um homem que “fala com Deus” e sente-se pequeno diante da tragédia humana ao ter uma “visão estarrecida” do nosso querido planeta onde “tombam seres providos de alegria, num contra-senso, em volúpia fria, neste desprezo aos ideais mais puros!”

O poeta percorre pela infância, lembra do sertão e seu povo sofrido “em notado afano”. Como ele mesmo diz:
“Vê-se euclidiano
Um timbre espartano...
- Zabelê zanzando,
Perdiz no seu passo
Em lento compasso,
De modo tão lasso,
Piando... piando.”
Descreve com sutileza os gestos da mulher virtuosa e ressalta a sua beleza “de claro fulgor, em franca harmonia ao leve frescor dos dias amenos”. Ensina-nos, com sua poesia a “lição do perdão”, nos mostra o retrato da “mendicância” e, abstrato, titula alguns de seus poemas de “Mesmo Assim”, “Depois” e “Reflexão” afirmando, sem meias palavras que:
“Tudo hoje é antítese do que quero
Se apenas só tenho o que verbero
Num íntimo pesar do inconformismo”.

Pois é, Nivaldo, a “poesia é hoje a álgebra superior da metáfora”, já dizia José Ortega y Gasset. Se há poema sem poesia, certamente – e você há de concordar comigo - não haverá poesia sem um poema. Mesmo que falemos com as estrelas e reconheça Deus como nosso Criador. Obrigado, Teles, por ter me apresentado Nivaldo Melo. É bom saber – e isto é o poeta quem diz - que:
“Neste sofrimento a dor desafia
O sono plácido de quem escala
Guapos escalões do poder que exala
As leis que tornam-se já esmaecidas!...
Saudosos risos em ternos impulsos
São lembranças de benfazeja esfera
Quando malgrado vai crescendo a fera
Em cada canto a cruciar as vidas”.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Conflito Dramático


O Teatro é um conflito. O elemento básico, essencial a ação dramática, na qual se desenvolve em função da oposição e luta entre diferentes forças. Ator e personagem se estranham, mas, ao mesmo tempo se encontram, se completam. O conflito é determinante. Ele aponta a direção, estabelece o diálogo e permite que a ação teatral ocorra até atingir o clímax.
Há que se afirmar que o “conflito dramático é a marca da ação e das forças opostas do drama”, acentua Olga Reverbel. E acrescenta: “Há conflito toda vez que duas ou várias personagens tem atitudes, ideias ou visão do mundo opostas: amor/ódio, opressor/oprimido etc”.
Segundo Patrice Pavis, de acordo com a teoria clássica do teatro dramático, a finalidade do teatro consiste na apresentação das ações humanas, em acompanhar a evolução de uma crise, a emergênciae a resolução de conflitos. O conflito tornou-se a marca registrada do teatro. Entretanto, isto só se justifica para uma dramaturgia da ação (ação fechada). Outras formas (a épica,por exemplo) ou outros teatros (asiáticos) não se caracterizam pela presença nem do conflito, nem da ação.
Há conflito – acrescenta Pavis – quando um sujeito (qualquer que seja sua natureza exata), ao perseguir certo objeto (amor, poder, ideal) é “enfrentado” em sua empreitada por outro sujeito (uma personagem, um obstáculo psicológico ou moral). Esta oposição se traduz então por um combate individual ou “filosófico”; sua saída pode ser cômica e reconciliadora, ou trágica, quando nenhuma das partes presentes pode ceder sem se desconsiderar.
Hegel relata que “a ação dramática não se limita à realização calma e simples de um fim determinado; ao contrário, ela se desenrola num ambiente feito de conflitos e colisões e é alvo de circunstâncias, paixões, caracteres que a ela se contrapõem ou se opõem. Tais conflitos e colisões geram, por sua vez, ações e reações que tornam, em dado momento, necessário seu apaziguamento”.
Na maioria das vezes, o conflito é contido e é mostrado ao longo da ação, constituindo-se em seu ponto alto (o clímax). Mas o conflito pode ter sido produzido antes do início da peça: a ação é apenas a demonstração analítica do passado. Se a personagem espera o momento final da peça para conhecer o segredo da ação – alerta Pavis, o espectador conhece de antemão a saída para ela.

domingo, 29 de maio de 2011

NOSSO PARTIDO É A CULTURA

Bloco Afro Mini-Kongo

Todas segundas quintas-feiras do mês, o Fórum de Agentes, Empreendedores e Gestores Culturais do Território Litoral Sul é convocado para uma conversa sobre os principais acontecimentos da Cultura no país e na região. Desde que foi criado, em 2008, o Fórum vem promovendo ações de qualificação de pessoal ligadas à arte e à cultura do Litoral Sul, a princípio, por meio da Universidade Estadual de Santa Cruz, como o curso de extensão em Gestão Cultural, o Seminário de Pontos de Cultura, o encontro do Proler, a escola de sanfoneiros que ocorrerá nos próximos dias.
Entre suas finalidades está a que propõe projetos comuns, integrados ou não, entre os Municípios membros, Territórios e pleitear financiamento junto ao poder público e iniciativa privada, nacionais e internacionais visando a ampliação das ações e atividades do Fórum. O FORTEATRO-SUL – Formação em Teatro e Cidadania do Território Litoral Sul é um exemplo disso e será realizado em dezessete das vinte e seis cidades que compõem o Território de Identidade. São três dias de oficinas de cenografia, iluminação, produção cultural, interpretação, música de cena, maquiagem e gestão de grupos.
Nesta nova gestão, presidida pelo Escritor e Produtor Cultural Pawlo Cidade, em parceria com Maria Conceição (gestora cultural da cidade de Una) e Alessandra Barreto (UESC) eles pretendem criar um ciclo contínuo de colóquios sobre Políticas Culturais e Ferramentas da Produção Cultural no sentido de estimular a geração de ideias, o pensar coletivo e colaborativo, o fortalecimento da economia criativa como fonte de geração de emprego e renda, a troca de informações e conhecimentos entre os integrantes, bem como firmar parcerias com órgãos públicos e privados, ONGs, voltados para interesses da arte e cultura.
A nova gestão do FAEGSUL acredita que a Política Cultural deve se ocupar da ação cultural com um sentido de continuidade, “ao longo de toda a vida e em todos os espaços sociais”, solidificando as políticas de Estado, capazes de estimular os sujeitos para que produzam a “arte e a cultura necessárias para resolver seus problemas e afirmar e renovar sua identidade”.
“Somos capazes de engendrar um plano que permita o diálogo entre todos os segmentos artístico-culturais, a comunidade e o próprio Estado. E isso só será possível a partir do momento em que pensarmos de forma coletiva e colaborativa passando a ser a ferramenta que irá possibilitar a difusão, o acesso e a sustentabilidade da arte”, afirma Cidade.
O coletivo é capaz de permitir a produção do comum, de forma que possamos nos apropriar da coisa pública e não da privada. Ela abre o leque para a troca de experiências, estratégias e metas de resistência e autonomia com outros envolvidos. Faz com que possamos enfrentar o mercado, sem se preocupar com a livre concorrência, com as indústrias culturais, valorizando a criação. Com o estímulo a criação de redes colaborativas o FAEGSUL criará oportunidades dos grupos formarem alianças e fortalecer as práticas artísticas.
Você também pode participar do FAEGUL. Envie um breve currículo de suas atividades, preenchendo a ficha de inscrição no blog: www.faegsulba.blogspot.com  para o e-mail: faegsulba@gmail.com 

(Publicado na Coluna "Coxia", edição de 28/05/2011, Caderno 2, Diário de Ilhéus)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

CULTURA SÓ SE RESOLVE COLETIVAMENTE

Pawlo Cidade

“Cultura só se resolve coletivamente”. Ao ouvir esta frase do Professor e Acadêmico Ruy Póvoas - parte da fala inspiradora que ele chamou de “Reflexão”, na manhã da última quinta-feira, na sede da AMURC, em Itabuna, na abertura da reunião que elegeu a nova diretoria do FAEGSUL - Fórum de Agentes, Empreendedores e Gestores Culturais do Litoral Sul, duas coisas me chamaram a atenção.


A primeira foi à propriedade com que o Professor se debruçou sobre um conceito de cultura que venho perseguindo desde que entendo de Política Pública de Cultura; a segunda a de que a Cultura só se resolve pela educação. Sobre esta última entrarei em detalhes numa outra oportunidade. Mas, sobre a busca do coletivo para resolver o individual é uma questão que também pode partir do Estado.

O Estado deve ser capaz de engendrar um plano que permita o diálogo entre todos os segmentos artístico-culturais, a comunidade e o próprio Estado. E isso só é possível a partir do momento em que ele – o Estado - fomentar a criação de redes coletivas e colaborativas, saindo do papel viciado de produtor e passando a ser o instrumento que irá possibilitar a difusão, o acesso, a sustentabilidade da arte. O coletivo é capaz de permitir a produção do comum, de forma que possamos nos apropriar da coisa pública e não da privada. Ela abre o leque para a troca de experiências, estratégias e metas de resistência e autonomia com outros envolvidos. Faz com que possamos enfrentar o mercado, sem se preocupar com a livre concorrência, com as indústrias culturais, valorizando a criação. Com o estímulo a criação de redes colaborativas o Estado cria oportunidades dos grupos formarem alianças e fortalecer as práticas artísticas.

Por outro lado, por sermos tão múltiplos, parece-nos improvável, que possamos ser unos, apontando direções para a construção de uma identidade cultural brasileira. Contudo, o Estado pode viabilizar alternativas para não só apontar caminhos para a concepção de uma identidade cultural, mas também, o de satisfazer os anseios da comunidade. O traçado das políticas públicas de cultura quer sejam transversais ou não, necessitam ser elaboradas coletivamente.

A nova diretoria do FAEGSUL (Pawlo Cidade, presidente; Maria Conceição, vice-presidente; Alessandra Barreto, secretária e Eva Lima, suplente) tem a missão de construir uma rede cada vez mais colaborativa. Afinal, como disse o Professor, “estamos dentro de um avião em pleno vôo que precisa ser consertado. O avião não pode parar no ar. E aí? O que faremos?”

quinta-feira, 5 de maio de 2011

PARABÉNS, VERCIL!


Senhor Presidente, ilustríssimos confrades e confreiras, autoridades aqui representadas, meus senhores, minhas senhoras. Quando me foi delegada a responsabilidade de saudar este ilustre historiador, pelo também historiador e digníssimo presidente desta Academia de Letras, professor Arléo Barbosa, eu disse para mim mesmo: que benção! Uma das coisas mais fáceis que existem nesta vida é falar das pessoas que admiramos. “As pessoas viajam para admirar a altura das montanhas, as imensas ondas dos mares, o longo percurso dos rios, o vasto domínio do oceano, o movimento circular das estrelas e, no entanto, elas passam por si mesmas sem se admirarem ”. Vercil Rodrigues é uma dessas poucas pessoas que a gente passa a compreender que “amar é admirar com o coração. Admirar é amar com o cérebro ”.


O menino pobre, da pequena e pacata cidade de Gongogi, filho de dona Elza Rodrigues da Silva, aprendeu desde cedo que a leitura abre portas para o mundo e que o estudo dignifica o homem. Apesar das dificuldades, da luta incansável de sua mãe, nunca deixou de ouvir seus conselhos. Ao vê-la lendo e ouvindo atentamente seus ensinamentos, Vercil guardará para sempre na memória a imagem da mãe guerreira, que mesmo com poucos recursos, jamais deixou que seus filhos padecessem do pão.

Quando completou três anos, mudou-se para Itabuna e logo depois estudou na Escola Rômulo Galvão até a quarta série primária, depois fez o Ginásio no Colégio Estadual de Itabuna. Neste período, o pano de fundo de sua infância, adolescência e juventude foi no bairro Mangabinha. Decerto, o pequeno Vercil deve ter dado umas escapulidas com seus irmãos Ariovaldo, Vilobaldo e Josabeth para tomar banho no rio Cachoeira, pertinho do bairro, escondido de dona Elza, para não levar a lapada do cipó de goiabeira. Deve ter trepado em pé de manga, corrido de seu João Mangabinha e perdido a conta dos picolés que vendeu quando criança, dos geladinhos que deixou cair, do pão quentinho e fresco que entregou à dona Maria, a seu José, e das trouxas de roupas que entregou para as lavadeiras de ganho do Rio Cachoeira.

Talvez ele não recorde de quantas pipas empinou, de quantas disputas de peão participou, de quantos jogos de futebol assistiu e de quantas filmes viu nas matinês de domingo. Mas, certamente, Vercil recorda de todos os clássicos da literatura brasileira e universal que leu e dos populares gibis que permeavam sua cabeça com aventuras.

Vercil, com certeza, ainda lembra que foi vendedor de garrafas e de areia que se juntava nas enchentes da Rua Tertuliano Guedes de Pinho. Com esse dinheiro ajudava nas obrigações domésticas e, claro, para curtia as matinês no Cine Itabuna e assistia aos jogos do Itabuna Esporte Clube. Se apaixonou tanto pelo time que muito tempo depois se tornou Diretor Social e depois Conselheiro.

Vercil foi também do mercado informal. E, ao contrário do que diz uma certa canção, Vercil era alguém e tinha pra quem apelar: dona Elza! Como camelô, nas feiras livres do sul desta Bahia, contribuiu mais e mais no orçamento da família.


O primeiro emprego, de carteira assinada, aconteceu na Viação Nossa Senhora de Fátima, na função de cobrador. Como um bom profissional da categoria, certamente ele guarda uma história para contar. Não sei se isso lhe ocorreu, mas o fato é que um dia, como outro qualquer, uma senhora entrou com uma criança sapeca e sentou bem pertinho dele. O menino começou a pular no banco e começou a cantar: “Se meu pai fosse um coelho, minha mãe seria uma coelha e eu seria um coelhinho, ê, ê,ê...” E ele continuava gritando e cantando alto fazendo rimas com vários animais, bem perto do ouvido de Vercil. Até que, já chateado com aquele barulho falou bem perto do garoto: “Se seu pai fosse um bandido, você seria o quê?” E o menino esperto lançou uma rima: “Se meu pai fosse um bandido, minha mãe seria uma bandida e eu seria cobrador, ê, ê, ê”!...” Vercil calou a boca.

Mas, histórias e anedotas à parte, durante todo o período em que foi vendedor de pão, picolé, geladinho, camelô, cobrador etc, Vercil nunca deixou de estudar. Em 1997 terminou seu curso de história na UESC, depois, na mesma universidade fez o Curso de Especialização em História Regional e graduou-se ainda em Ciências Jurídicas pela FTC no ano passado. Especializou-se também em Metodologia do Ensino Superior, Gestão Escolar e Direito Público.

Em meio a tudo isso, casou-se com Angélica, e fez vários cursos, inclusive de Radialismo – Vercil também foi plantonista esportivo na rádio Itabunense. Encontrou fôlego para passar em dois Concursos Públicos do Estado onde exerceu a experiência de ser professor de História por mais de dez anos, vice-diretor e Diretor do Colégio Estadual Félix Mendonça – daí a necessidade de fazer especialização em Gestão Escolar. Vercil sempre levou tudo que fez com muita responsabilidade. Seu currículo e sua determinação não deixam dúvidas.

Mas não pensem os senhores, e as senhoras, que Vercil em meio a tantas atividades, num certo período da vida não pensou em “chutar o pau da barraca” e tentar a vida em terras distantes de sua cidade mãe. Pois é, em 1984, com 17 anos, seguindo o exemplo de muitos jovens, partiu para o Rio de Janeiro, mas, deu formiga na cama, e os pés disseram: Vercil, vai pra tua Terra meu filho que lá tu irá florescer. E, três anos depois, ele volta, de mala e cuia para Itabuna. Entretanto, a teimosia era tanta e como não acreditava que podia florescer na Terra que estava plantado, um ano depois vai agora para São Paulo – como todo bom nordestino, tentar a sorte na cidade grande.

Bem, não preciso contar o que aconteceu, senão, ele não estaria aqui hoje, sendo saudado por este humilde confrade, que em nome desta Academia, o recebe de braços abertos. Todavia, não pensem os senhores que minha saudação acaba aqui.

O fato é que - como disse Dr. Marcos Bandeira - Vercil é “um homem a frente de seu tempo”. Hoje, Vercil Rodrigues, este jovem simpático de pelerine é jornalista, fundador e editor do jornal Direitos – primeiro jornal jurídico do norte-nordeste e 2º do Brasil; fundador da Editora de Livros Direitos, autor da obra “Breve Análises Jurídicas” – que está em sua terceira edição. Esta veia jurídica lhe rendeu o comentário do doutor em Direito da UFBA, Ricardo Maurício Freire Soares, ao afirmar, sem ressalvas, que o professor Vercil é um “dos grandes responsáveis pelo novo e auspicioso momento de produção e difusão das letras jurídicas no Brasil e, particularmente, na Bahia, contribuindo, decisivamente, para retomada de uma salutar e crescente atmosfera de efervescência cultural no seio da comunidade jurídica”.

Pois é. Além disso é autor de dois livros inéditos: Tribunal do Júri e o Populismo em Itabuna – que serão lançados em breve; colunista dos jornais A região, A notícia, Gazeta Nordestina e colaborador dos jornais Agora e Diário do Sul.
De quebra, acaba de fundar com mais seis intelectuais da nossa vizinha cidade, a AGRAL – Academia Grapiúna de Letras, onde exerce a função de vice-presidente.

Enfim, como escrevi no parecer à sua entrada nesta confraria: “Este jovem candidato preenche, indubitavelmente, todos os pré-requisitos à investidura do rol de membros desta conceituada Academia”.

Tenho dito! Muito obrigado. Parabéns, Vercil.

(Discurso de Saudação ao novo Imortal da Academia de Letras de Ilhéus, Vercil Rodrigues, apresentado pelo Acadêmico, membro da cadeira nº 13, Pawlo Cidade, na noite de 05 de Maio de 2011)

sexta-feira, 25 de março de 2011

A CASA DE MARIA BONITA

Casa de Maria Bonita, em Malhada da Caiçara - Paulo Afonso/Bahia

Estivemos no Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita, visitando a “Casa de Santinha”, título homônimo, provisório, do mais novo espetáculo do grupo Teatro Total. O Seminário aborda aspectos, vida e curiosidades da mulher que abriu o movimento cangaceiro para a figura feminina: Maria Gomes de Oliveira, a Maria Déa, depois Maria Bonita.
A nova proposta cênica, que deve estreiar em setembro deste ano, se passa no ano de 1931. O Cangaço, liderado por Virgulino Ferreira, vulgo Lampião, impera pelo sertão nordestino. Maria, filha de Zé Felipe e Dona Déa, vive um casamento conturbado com um sapateiro dançarino e boêmio chamado Zé de Neném. Inconformada com o casamento da filha, Dona Déa promete a Virgulino sua filha Maria. Maria se apaixona pelas histórias do Rei do Sertão, contrariando a prima Mariquinha e o marido Zé de Neném. Dona Déa convence Zé Felipe a proporcionar um encontro entre Lampião e Maria.
Ao vê-la, o capitão estremece. E, de Maria Déa, Virgulino a batiza de “Maria Bonita”. A partir deste momento tem início uma das mais conhecidas histórias de amor do sertão, escrita a sangue, fogo e bala. “A Casa de Santinha” é o começo, a origem da mulher que “rompeu as barreiras impeditivas da presença feminina, em um mundo até então povoado por homens”, o Cangaço.
A Casa de Santinha, na Fazenda Malhada da Caiçara, feita de barros com taipa e fasquias de madeira, é o pano de fundo desta trama e também cenário do espetáculo que deverá ser concebido e executado por Joferson Ferreira.
Desde a abertura oficial, na quarta-feira, dia 23, na cidade baiana de Paulo Afonso, passando por Piranhas, em Alagoas e Canindé do São Francisco em Sergipe, estudiosos, amantes e escritores do cangaço de todo o Brasil debateram as mais novas descobertas sobre estes temidos justiceiros que aterrorizaram diversos estados nordestinos, bem como reafirmaram seus pontos de vista sobre a vida e a morte da Rainha do Cangaço.
Grota de Angicos, Poço Redondo/Sergipe

Estivemos em pontos marcantes da história, sobretudo o local de morte de Lampião e Maria Bonita, Angicos, após meia hora de barco pelo fantástico Rio São Francisco, do lado de Alagoas, até a cidade de Poço Redondo, em Sergipe, onde está a grota testemunha do massacre da volante. Conhecemos o local onde as cabeças cortadas foram expostas e o Raso da Catarina, palco de uma batalha entre os cangaceiros e a volante na antiga Glória, hoje Paulo Afonso. Visitamos também a casa do coiteiro Pedro Cândido (foto), responsável por fornecer os últimos víveres para Lampião e acusado de traição, após ser barbaramente torturado pela volante alagoana; fotografamos Neli, filha dos cangaceiros Moreno e Lurdinha e durante todo esse tempo, acompanhamos os amigos Manoel Severo (Cariri Cangaço), João de Souza Lima (Escritor) e Kiko Monteiro (Lampião Aceso), pesquisadores do movimento e promotores de eventos importantes sobre o tema.
“A Casa de Santinha” promete ser um drama derradeiro, que marcará e finalizará o ciclo de espetáculos cangaceiros sobre a história de Maria Bonita, antes de entrar para o movimento. 

quinta-feira, 10 de março de 2011

ARTE DE NEGOCIAR




PAI - Escolhi uma ótima moça para você casar. 
FILHO - Mas, pai, eu prefiro escolher a minha mulher.
PAI - Meu filho, ela é filha do Bill Gates...
FILHO - Bem, neste caso, eu aceito. 

            Então, o pai negociador vai encontrar o Bill Gates. 
PAI - Bill, eu tenho o marido para a sua filha!
BILL GATES - Mas a minha filha é muito jovem para casar!
PAI - Mas este jovem é vice-presidente do Banco Mundial... 
BILL GATES - Neste caso, tudo bem. 
            
Finalmente, o pai negociador vai ao Presidente do Banco Mundial. 

PAI - Sr. Presidente, eu tenho um jovem recomendado para ser vice-presidente do Banco Mundial. PRES. BANCO MUNDIAL - Mas eu já tenho muitos vice-presidentes, mais do que o necessário.
PAI - Mas, Sr., este jovem é genro do Bill Gates.
PRES. BANCO MUNDIAL - Neste caso ele pode começar amanhã mesmo! 
Moral da estória: 

Não existe negociação perdida. 
Tudo depende da estratégia. 


Se um dia disserem que seu trabalho não é o de um profissional,  lembre-se: 
a Arca de Noé foi construída por amadores; 
profissionais construíram o Titanic.
 

sexta-feira, 4 de março de 2011

Patrícia e "Mô", gourmet

Mulher Chorando, Pablo Picasso

A lua cheia brilhava no céu. O carro parou perto da praia. O vento brando trazia a maresia das ondas e o barulho da água arrebentando nos rochedos. O jovem estudante de veterinária não quis perder tempo. Abriu a porta e tirou a calça. Patrícia não saiu do veículo.
                - Que houve? Você não vem? Vamos fazer amor nas pedras! – Curvou o rosto na direção da janela com todos os dentes à mostra.
                - Não estou a fim.
                - Como assim? Você é tão espontânea. Está acontecendo alguma coisa? – Dobrou os braços sob a porta e encostou o queixo.
                - Preciso ser sincera com você. – O coração deu um salto.
                - Nós sempre fomos sinceros um com o outro. É só um lance entre nós, não é?
                - É.
                - Então? Não estou entendendo você. Não quer mais sair comigo?
                Ela ficou em silêncio. Soltou um sorriso com medo.
                - É isso? Fala! Você está me deixando nervoso. – Expressou entre dentes e com mau humor. Pat estranhou. Não sabia que ele se irritava com facilidade.
                - Tenho que confessar uma coisa. – Respirou pelo nariz, mas não soltou o ar pela boca. Não podia mais mudar de assunto. Quer dizer, se quisesse, podia. Uma situação complicada exigia saídas criativas. E Pat sabia fazer isso muito bem com “Mô”, um cara completamente previsível. Pelo menos é o que imaginava até aquela noite.
                Ele vestiu novamente a calça, abriu a porta e sentou no banco do motorista.
                - Estou ouvindo. – Mostrou irritação.
                - Nunca houve cobranças entre nós. Só que ultimamente você tem sido mais carinhoso que o normal. E eu não me sinto bem agindo assim. – Ela não estava mentindo.
                - Que parar de enrolar, droga! Fala logo de uma vez! – Gritou. Patrícia afastou-se receiosa – Desculpe! – Lamentou.
                Ela fitou o rosto dele. Inspirou novamente, criou coragem e prosseguiu:
                - Outro dia você me perguntou por que eu sempre te chamo de “Mô” e não pelo nome.
                - Eu lembro. E daí?
                - E daí que “Mô” para mim, não significa “amor”.
                - Não? – Espantou-se. – E significa o quê?
                - Motorista. – Revelou em voz alta, balançando a cabeça.
                “Mô” explodiu em gargalhadas durante uns quarenta segundos. Patrícia riu também.
Sem que ela pudesse esperar, ele parou de sorrir como um “stop” de DVD player, vociferou um palavrão e deu uma cotovelada no rosto dela. O impacto partiu na hora o supercílio. Em seguida, ainda agredindo-a verbalmente, empurrou-a violentamente para fora do carro. Deu partida e por pouco não a atropelou.
Sangrando e chorando muito, ela retirou o celular do bolso de trás da calça e bastante trêmula discou 1-9-0.
- Polícia Militar, boa noite. – Respondeu a voz feminina do outro lado.
- Alô... eu... queria falar com... o tenente... Paulo! – Balbuciou.
- Quem gostaria?
- A filha dele.   
(Trecho do romance "NABOA", ainda no prelo de minha autoria.)

TIRINHAS

  Texto: Pawlo Cidade Deadpool: Marca registrada da Marvel Jorge Amado: Foto de Mario Ruiz Mais tirinhas na minha página oficial do Instagra...