quarta-feira, 7 de novembro de 2012

CRÍTICA LITERÁRIA



O que tem Maria Amélia com os amores de Caetano?
Por Pawlo Cidade[1]

Chegou às minhas mãos a obra de Chiquinho. Face a leitura fácil, gostosa e esclarecedora, me vejo às voltas de um historiador que, além de contar com esmero os fatos, causos e acontecimentos de sua Terra natal, sabe como ninguém que a memória é o essencial – como diria Jorge Luis Borges – “visto que a literatura está feita de sonhos e os sonhos fazem-se combinando recordações.”

Pois é o que vemos ao ler “Cidade Tobogã”, livro que conta a história da cidade de Ibirapitanga (distante 106 km de Ilhéus), a cidade que “nasceu entre os rios Cachoeira do Pau e Revés.” Como também sou um contador de causos e histórias, saltei alguns capítulos e fui logo conhecer as curiosidades e acontecimentos que tiveram como protagonistas diversos moradores como Antonio Aragão, Mestre Né, Gia que deixaram registrado uns chavões como o título que leva este artigo sobre o livro. Me diverti mais ainda ao conhecer os apelidos exóticos que a saudosa “Cachoeira do Pau” abrigou como Barriga, Cheiro, João Relento, Calango, Beiju, Zoi de Porco e Boca Mole que de mole não tinha nada.

Todavia, “Cidade Tobogã” abriga muito mais que causos e apelidos, traz em cada página, as recordações e as notícias, quase em forma de crônicas, sobre questões como o plebiscito que emancipou Ibirapitanga por apenas um voto; as festas populares, representadas pelo Bumba-meu-boi, o Terno de Reis, o Carnaval, a Festa da Páscoa, Santo Antonio, São João e São Pedro, “ao som das músicas juninas os rapazes, moças, velhos e velhas, dançavam agarradinho e funga-funga, esquentando as noites frias do mês de junho. Era um tempo bom,de alegria, no ritmo do “chiado da chinela” e da beleza dos fogos que explodiam nas redondezas”, relata Chiquinho.


“Chiquinho”, (no centro da foto) que outrora fora batizado de Francisco Quinto de Souza Neto, ficou mais conhecido pelo apelido que pelo nome sem, em nenhum momento, ser desmerecido pela alcunha que, certamente, o imortalizará. “Chiquinho” traduz a simplicidade, o sorriso simpático, a conversa serena, o discurso pragmático e a introdução segura com que aponta cada um dos seus capítulos das duas partes em que o livro está dividido.

Eu, não tenho dúvidas que este “Cidade Tobogã” será para os moradores de Ibirapitanga uma bússola, um registro vivo de sua história, de sua gente, escrita – como bem afirma minha amiga e poeta Geny Xavier - “a partir do olhar atento e afetuoso de um cidadão ibirapitanguense que, pelo afeto à sua cidade natal e pela vivência social, cultural e política, se fez conhecedor de muitos aspectos que determinam a história desse município.”

Parabéns, Francisco Quinto, sei que tens muito ainda a contar. Afinal, mesmo que Maria Amélia não tenha nada a ver com os amores de Caetano, não poderia deixar de parafrasear  Mestre Né, o  saudoso intérprete da voz de Vicente Celestino que bradava que cachorro só Surubim; espingarda só de cartucho; mulher só Áurea e memorialista de “Cachoeira do Pau” só Chiquinho!



[1] Escritor, crítico literário, membro da Academia de Letras de Ilhéus.

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