- Neste mesmo dia o senhor assina o decreto do feriado da padroeira. Prosseguiu.
- A ideia é boa. Mas o povo quer calçamento, saneamento, escola, posto de saúde funcionando... Alertava o Prefeito.
- A gente sabe disso. Mas se tem pão e circo, em época de eleição, engana qualquer cidadão! Gargalhou. E acabou convencendo o chefe do executivo que, ao abrir as pernas por baixo da mesa, para se espreguiçar, chutou com o pé direito, involuntariamente, o joelho doente do Comprador. Demas – verdadeiro nome de batismo do Administrador do Povoado – fechou ligeiramente os olhos sentindo muita dor. O Prefeito se desculpou, mas já era tarde. O joelho queimava e pulsava ao mesmo tempo. Demas se levantou com dificuldade, respirando fundo.
- Procura o doutor Bandeirante, urgente! Ele vai dar um jeito nesse negócio aí. Orientou enquanto ordenava à secretária que entrasse o próximo. O Administrador balançou a cabeça concordando. Antes mesmo de o Comprador de Almas sair, a nova Diretora de Cultura entrou na sala. Os dois foram apresentados ligeiramente, sem muita cerimônia.
- Demas, essa é a professora de piano do meu filho. Convidei ela para ser a Diretora de Cultura de Vila Bela, o que acha? Questionou o Prefeito.
A nova Diretora de Cultura esboçou um sorriso em seus lábios, de cantos pendentes, já afinados, e estendeu a mão direita para ser cumprimentada. Demas, com o joelho sorumbático, só pensava agora como faria para descer aqueles mais de cento e cinquenta degraus do primeiro andar do gabinete do Prefeito, já que o elevador não funcionava há três semanas. Antes mesmo de retribuir a saudação, perguntou com a voz meio engasgada, num misto de dor e despeito:
- Você não é a esposa do Presidente da Câmara de Vereadores?
- Sim! Geraldinho é meu marido. Novo sorriso. Desta vez mais longo e confiante.
- Parabéns! Retorquiu.
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