CATA NICA, MISERÁVEL!
Pawlo
Cidade
Cata nica,
pinga pinga, coletivo, bus, lata velha, buzú! Ele pode ter vários apelidos,
mas, a verdade é uma só: Sujeira, poltronas quebradas, cigarras que não
funcionam (Pára aí, motorista!), horários desgovernados, linhas mal atendidas,
motoristas estúpidos, cobradores e cobradoras mal humoradas, passagem cara!
Peraí, e nada
se salva? Claro, toda regra tem exceção. Tem aquele que pára para a moça
bonitinha no ponto, que varre o veículo no ponto final, que passa flanela nas
poltronas molhadas quando a chuva pega todo mundo de surpresa; o condutor que
dá bom dia, boa tarde, boa noite. E é só.
Hora do pico,
confusão, empurra-empurra, rala-rala: “Oi, minha bolsa!” “Empurra não, p.!”
“Peraí, véi!” “Respeita a senhora, aí, cara!” Quem entra primeiro, senta. Os
mais solidários pedem as mochilas para segurar, os livros para apoiar no colo,
a bolsa pra ninguém ficar mexendo por trás. E de, ponto em ponto, entra mais
um, mais dois, mais três, mais dez. “Já tá bom, motorista! Segue essa m.!” E a
viagem segue, com cheiro, sem cheiro. Que ninguém se atreva a liberar um gás.
“Deus é mais!” “Vai timbora, carniça!” “Creem-Deus-pai!”
Estudantes
irritados na ida para a escola. Estudantes zoando na volta para casa. Foram tão
oprimidos no dia-a-dia que a hora da volta é a hora de extravasar, de gritar,
de berrar, de cantar: “Se eu fosse um cachorro, minha mãe seria uma cachorra e
eu seria um cachorrinho! Lá, lá, lá, lá!” Cobrador furioso, motorista irritado.
Freio de arrumação. “Tá levando boi, miserável!” “Não é sua mãe que está aqui
não!” E a melodia estudantil ecoando do fundo, em ritmo de arrocha: “Se eu
fosse um gato, minha mãe seria uma gata e eu seria um gatinho! Lá, lá, lá, lá!
Quem aguenta? Ladainha, pirraça, barulho no pé do ouvido? A senhora gorda,
perto do motorista, bufando e soando ao mesmo tempo. Não sabia se descia no
próximo ponto ou se brigava com os meninos lá no fundo.
“Se eu fosse
um cavalo, minha mãe seria uma égua e eu seria um cavalinho! Lá, lá, lá, la!” A
esta altura, o cobrador já “p” da vida resolve acabar com a farra estudantil e
grita para todo passageiro ouvir: - Se sua mãe fosse uma puta?
E a turma,
esperta, podia até perder a briga, mas não perdeu a oportunidade de entoar uns
versos que deixou o cobrador com cara de tacho: “Se minha mãe fosse uma puta,
meu pai seria um corno e eu seria cobrador! Lá, lá, lá, lá!”
Pensa que o
fato não foi aqui? Ou que o cenário é apenas uma crônica do dia-a-dia? Triste
engano. A pirraça é na linha do Salobrinho, do Vilela, do Basílio, do Iguape...
Ainda bem que
na vida tudo é passageiro. Exceto, cobrador e motorista.
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