Prédio da Biblioteca Pública Adonias Filho, Praça Castro Alves, Ilhéus/BA.
Abandonado pelo governo atual.
Até quando permaneceremos omissos ao descaso com que nosso patrimônio cultural vem sendo submetido? Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio, autor do clássico “As Veias Abertas da América Latina” estava certíssimo quando disse que “vivemos em plena cultura da aparência”. Observe: “o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral importa mais que o morto, as roupas importam mais do que o corpo, e a missa importa mais do que Deus”.
Na educação da Bahia, diga-se de passagem, o resultado é mais importante que o processo. Claro que ter muitos alunos com capacidade de leitura, escrita e interpretação de texto aprovados é um sonho de resultado. Mas para se chegar a isso muitos aspectos devem ser observados, sobretudo, o trabalho exaustivo da professora em sala de aula. Mas seguindo a ideia de Galeano e não a fala dele, a escola que reprova alunos é uma escola autoritária. Como é que é? É!... E quem disse que é você, professor, professora, que decide que o aluno deve ou não passar de ano? Hein, Naninha? Rapaz, esta declaração dada pelo nosso governador me trouxe a lembrança a frase célebre e cirúrgica do saudoso Octávio Mangabeira, que governou a Bahia de 1947 a 1951, que diz: “Pense num absurdo, na Bahia tem precedente”.
Mas na retomada desta minha escrita neste programa, meu foco é o prédio escolar General Osório que funcionou como escola pública durante mais de oitenta anos. Depois se transformou na casa do livro e da leitura, a Biblioteca Pública Adonias Filho e o Arquivo Público Municipal João Mangabeira. A aparência que se tem da Biblioteca, hoje abandonada, portas fechadas, janelas desabando, livros espalhados pelo chão, mofo, ratos, baratas e festa das traças é que os responsáveis por fazê-la ressurgir das cinzas são uns ignorantes. É até ofensivo afirmar isso. Ignorantes. Mas a ignorância, não é Ediel?, muitas vezes, é a única cultura que algumas pessoas tem. E, não tenho nenhuma dúvida que elas sabem que “a cultura de um povo é o seu maior patrimônio”. O que dizer então de uma biblioteca pública?
Posso dizer uma coisa, Vila? O prédio centenário já ruiu. Desabar é só uma questão de tempo. E você pensa que vão erguer uma biblioteca novinha, cheia de livros cheirosos, esperando os mais ávidos leitores e pesquisadores para folheá-los? De-sis-ta. Quando isso acontecer, no dia seguinte, uma rede de fast food se apropria do terreno e deixa apenas um pedaço da fachada, de preferência a que está escrito “Sexo Masculino” de um lado e “Sexo Feminino” do outro. Mas quem disse que se honra a cultura, preservando a sua fachada? Quem disse que se honra a cultura, distribuindo migalhas? Quem disse que se honra a cultura, comercializando as praças? Quem disse que se honra a cultura, aparelhando sua estrutura? Eu não disse. Se você disser que eu disse, eu digo que é mentira.
E, por fim, parafraseando uma grande escritora nigeriana, autora de “A coisa à volta do seu pescoço”, entendedores entenderão, a biblioteca não faz as pessoas. As pessoas fazem a biblioteca. Se uma cidade inteira de leitores, artistas, professores, profissionais liberais, jornalistas, advogados não fazem parte da biblioteca, então deixem ela ir ao chão.
As pessoas criticam tanto a falta de esgoto na sua rua, a lâmpada que queima toda semana no seu bairro, o lixo que não é recolhido, a falta de professor na escola e a mãe de Pantanha que não deu bom dia a você quando cruzou a esquina, por que não critica o pouco investimento que este governo faz em cultura?
Naninha, Seu Jorge, Dudu, Vila, investir em cultura não é caridade. É uma necessidade essencial para a vida do cidadão. Prova disso foi a pandemia, que, pelo visto, muita gente já esqueceu.
Enquanto isso, fiquem sem teatro, sem biblioteca, sem arquivo público, sem circo, sem nada. Um povo sem cultura é como mula no cabresto. A gente leva para onde quer. Mas se a mula se retar, sai de baixo!
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