Senhor Presidente, ilustríssimos confrades e confreiras, autoridades aqui representadas, meus senhores, minhas senhoras. Quando me foi delegada a responsabilidade de saudar este ilustre historiador, pelo também historiador e digníssimo presidente desta Academia de Letras, professor Arléo Barbosa, eu disse para mim mesmo: que benção! Uma das coisas mais fáceis que existem nesta vida é falar das pessoas que admiramos. “As pessoas viajam para admirar a altura das montanhas, as imensas ondas dos mares, o longo percurso dos rios, o vasto domínio do oceano, o movimento circular das estrelas e, no entanto, elas passam por si mesmas sem se admirarem ”. Vercil Rodrigues é uma dessas poucas pessoas que a gente passa a compreender que “amar é admirar com o coração. Admirar é amar com o cérebro ”.
O menino pobre, da pequena e pacata cidade de Gongogi, filho de dona Elza Rodrigues da Silva, aprendeu desde cedo que a leitura abre portas para o mundo e que o estudo dignifica o homem. Apesar das dificuldades, da luta incansável de sua mãe, nunca deixou de ouvir seus conselhos. Ao vê-la lendo e ouvindo atentamente seus ensinamentos, Vercil guardará para sempre na memória a imagem da mãe guerreira, que mesmo com poucos recursos, jamais deixou que seus filhos padecessem do pão.
Quando completou três anos, mudou-se para Itabuna e logo depois estudou na Escola Rômulo Galvão até a quarta série primária, depois fez o Ginásio no Colégio Estadual de Itabuna. Neste período, o pano de fundo de sua infância, adolescência e juventude foi no bairro Mangabinha. Decerto, o pequeno Vercil deve ter dado umas escapulidas com seus irmãos Ariovaldo, Vilobaldo e Josabeth para tomar banho no rio Cachoeira, pertinho do bairro, escondido de dona Elza, para não levar a lapada do cipó de goiabeira. Deve ter trepado em pé de manga, corrido de seu João Mangabinha e perdido a conta dos picolés que vendeu quando criança, dos geladinhos que deixou cair, do pão quentinho e fresco que entregou à dona Maria, a seu José, e das trouxas de roupas que entregou para as lavadeiras de ganho do Rio Cachoeira.
Talvez ele não recorde de quantas pipas empinou, de quantas disputas de peão participou, de quantos jogos de futebol assistiu e de quantas filmes viu nas matinês de domingo. Mas, certamente, Vercil recorda de todos os clássicos da literatura brasileira e universal que leu e dos populares gibis que permeavam sua cabeça com aventuras.
Vercil, com certeza, ainda lembra que foi vendedor de garrafas e de areia que se juntava nas enchentes da Rua Tertuliano Guedes de Pinho. Com esse dinheiro ajudava nas obrigações domésticas e, claro, para curtia as matinês no Cine Itabuna e assistia aos jogos do Itabuna Esporte Clube. Se apaixonou tanto pelo time que muito tempo depois se tornou Diretor Social e depois Conselheiro.
Vercil foi também do mercado informal. E, ao contrário do que diz uma certa canção, Vercil era alguém e tinha pra quem apelar: dona Elza! Como camelô, nas feiras livres do sul desta Bahia, contribuiu mais e mais no orçamento da família.
O primeiro emprego, de carteira assinada, aconteceu na Viação Nossa Senhora de Fátima, na função de cobrador. Como um bom profissional da categoria, certamente ele guarda uma história para contar. Não sei se isso lhe ocorreu, mas o fato é que um dia, como outro qualquer, uma senhora entrou com uma criança sapeca e sentou bem pertinho dele. O menino começou a pular no banco e começou a cantar: “Se meu pai fosse um coelho, minha mãe seria uma coelha e eu seria um coelhinho, ê, ê,ê...” E ele continuava gritando e cantando alto fazendo rimas com vários animais, bem perto do ouvido de Vercil. Até que, já chateado com aquele barulho falou bem perto do garoto: “Se seu pai fosse um bandido, você seria o quê?” E o menino esperto lançou uma rima: “Se meu pai fosse um bandido, minha mãe seria uma bandida e eu seria cobrador, ê, ê, ê”!...” Vercil calou a boca.
Mas, histórias e anedotas à parte, durante todo o período em que foi vendedor de pão, picolé, geladinho, camelô, cobrador etc, Vercil nunca deixou de estudar. Em 1997 terminou seu curso de história na UESC, depois, na mesma universidade fez o Curso de Especialização em História Regional e graduou-se ainda em Ciências Jurídicas pela FTC no ano passado. Especializou-se também em Metodologia do Ensino Superior, Gestão Escolar e Direito Público.
Em meio a tudo isso, casou-se com Angélica, e fez vários cursos, inclusive de Radialismo – Vercil também foi plantonista esportivo na rádio Itabunense. Encontrou fôlego para passar em dois Concursos Públicos do Estado onde exerceu a experiência de ser professor de História por mais de dez anos, vice-diretor e Diretor do Colégio Estadual Félix Mendonça – daí a necessidade de fazer especialização em Gestão Escolar. Vercil sempre levou tudo que fez com muita responsabilidade. Seu currículo e sua determinação não deixam dúvidas.
Mas não pensem os senhores, e as senhoras, que Vercil em meio a tantas atividades, num certo período da vida não pensou em “chutar o pau da barraca” e tentar a vida em terras distantes de sua cidade mãe. Pois é, em 1984, com 17 anos, seguindo o exemplo de muitos jovens, partiu para o Rio de Janeiro, mas, deu formiga na cama, e os pés disseram: Vercil, vai pra tua Terra meu filho que lá tu irá florescer. E, três anos depois, ele volta, de mala e cuia para Itabuna. Entretanto, a teimosia era tanta e como não acreditava que podia florescer na Terra que estava plantado, um ano depois vai agora para São Paulo – como todo bom nordestino, tentar a sorte na cidade grande.
Bem, não preciso contar o que aconteceu, senão, ele não estaria aqui hoje, sendo saudado por este humilde confrade, que em nome desta Academia, o recebe de braços abertos. Todavia, não pensem os senhores que minha saudação acaba aqui.
O fato é que - como disse Dr. Marcos Bandeira - Vercil é “um homem a frente de seu tempo”. Hoje, Vercil Rodrigues, este jovem simpático de pelerine é jornalista, fundador e editor do jornal Direitos – primeiro jornal jurídico do norte-nordeste e 2º do Brasil; fundador da Editora de Livros Direitos, autor da obra “Breve Análises Jurídicas” – que está em sua terceira edição. Esta veia jurídica lhe rendeu o comentário do doutor em Direito da UFBA, Ricardo Maurício Freire Soares, ao afirmar, sem ressalvas, que o professor Vercil é um “dos grandes responsáveis pelo novo e auspicioso momento de produção e difusão das letras jurídicas no Brasil e, particularmente, na Bahia, contribuindo, decisivamente, para retomada de uma salutar e crescente atmosfera de efervescência cultural no seio da comunidade jurídica”.
Pois é. Além disso é autor de dois livros inéditos: Tribunal do Júri e o Populismo em Itabuna – que serão lançados em breve; colunista dos jornais A região, A notícia, Gazeta Nordestina e colaborador dos jornais Agora e Diário do Sul.
De quebra, acaba de fundar com mais seis intelectuais da nossa vizinha cidade, a AGRAL – Academia Grapiúna de Letras, onde exerce a função de vice-presidente.Enfim, como escrevi no parecer à sua entrada nesta confraria: “Este jovem candidato preenche, indubitavelmente, todos os pré-requisitos à investidura do rol de membros desta conceituada Academia”.
Tenho dito! Muito obrigado. Parabéns, Vercil.
(Discurso de Saudação ao novo Imortal da Academia de Letras de Ilhéus, Vercil Rodrigues, apresentado pelo Acadêmico, membro da cadeira nº 13, Pawlo Cidade, na noite de 05 de Maio de 2011)
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